quarta-feira, 1 de abril de 2009

Música Gigante

E você achava que o Roque Metaleiro não poderia mais surpreender, hã? Então eu vos trago: MASTODON.

Trata-se de uma banda formada em 2000, na cidade de Atlanta, nos Estados Unidos, e que tem Brent Hinds e Bill Kelliher nas guitarras, Troy Sanders no baixo e o incrível Brann Dailor na bateria. Os caras carregam diversas influências na composição de sua música, elas vão do Thrash metal ao Rock progressivo dos anos 70, passando por vertentes do Hardcore e Stoner Rock.

Em inglês, Mastodon é o nome de um gigantesco animal pré-histórico, e parece que esse fascínio da banda por histórias e gigantismos não pára no nome. Suas canções fazem uso de diversas partes, como um imenso e complexo quebra-cabeças. A música que começa com extrema brutalidade pode descambar em um interlúdio extremamente melodioso e vir e desaguar em um mar de psicodelia.

E por falar em mar...








Seus discos são permeados por conceitos, recheados de simbolismo e são, também, interligados, uma vez que cada um deles representa um dos elementos da natureza e faz uso deles como pano de fundo para alguma estória a ser desenrolada por entre as canções.

O disco da foto, por exemplo, se chama Leviathan e tem como elemento a água. A banda baseou-se em Moby Dick, romance de 1851 do escritor norte-americano Herman Melville, que, além de ser um livro que retrata a luta de um humano contra um animal gigantesco, fala sobre a luta do homem racional contra o animal guiado pelo seu instinto de se alimentar, luta onde não há bons, nem maus (ou pelo menos onde os mesmos se confundem). Leviathan em suas 10 músicas, recheadas de peso, baterias intrincadas, compassos quebrados e excentricidade, te transporta para dentro da batalha entre o Capitão Ahab e a gigante baleia branca que dá nome ao livro.

Seu antecessor, que se chama Remission, nos traz o fogo e como tal é uma chama avassaladora que destrói tudo por onde passa. É o álbum mais pesado da banda, é monstruoso e ambienta o caos. É repleto de elementos de Thrash, Death, vocais agressivos e tem seus clarões jazzísticos.

Posterior a isso tudo, seu terceiro álbum narra a odisséia de um aventureiro viajante que busca a crystal skull, que se encontra no topo de uma montanha. Blood mountain é o nome dessa obra e, nela, o Mastodon vai ainda mais além e avança um passo na musicalidade do grupo. Blood mountain traz tudo o que os outros álbuns trouxeram até então, elementos de Thrash e Death metal, passagens jazzísticas e tudo mais, porém a banda se supera e passeia com maestria entre os caminhos que ela mesma traça para si.

Não menos que impressionante é a facilidade com que os músicos estruturam suas imprevisíveis canções. Os vocais, que são compartilhados por Brent Hinds e Troy Sanders, exploram ainda mais intensas linhas melódicas, os interlúdios e os arranjos são incríveis e mostram a versatilidade dos membros da banda. Como se não bastassem os músicos da banda, Blood Mountain conta ainda com as participações especiais de Scott Kelly, do Neurosis, na faixa Crystal Skull, Josh Homme, do Queens of stone Age, na faixa Collony of Birchmen, do Tecladista Isaiah “Ikey” Owens, na faixa Pendolous Skin e do vocalista Cedric Bixler-Zavala do Mars volta, em Siberian Divide.


Seu lançamento mais recente é o indescritível Crack The Skye, que já confunde no elemento temático. A lógica nos levaria a crer que o ar seria abordado nesse álbum, porém o que se tem é o éter. Uma rápida explicação: “Segundo Aristóteles, o mundo é composto de 5 elementos básicos. Ele acreditava nos quatro elementos do planeta: a Água, como Tales, o Ar, como Anaxímenes, o Fogo como Heráclito, a Terra, e um hipotético 5º elemento, o éter, também chamado de quinta-essência ou quintessência, presente no cosmo.”

Segundo Brann Dailor o álbum gira em torno de uma estória que envolveria arte russa, viagem astral, experiência extra-corpórea e as teorias de buraco-de-minhoca de Stephen Hawking (doutor em Cosmologia e um dos mais consagrados físicos teóricos do mundo). Ele diz:
Há um paraplégico e a única maneira de ele ir a qualquer lugar é com viagens astrais. Ele sai de seu corpo para o espaço sideral e, como ícaro, ele chega perto demais do sol e acaba queimando o cordão umbilical que fica preso em seu plexo-solar. Então ele está no espaço, está perdido e se vê preso a um buraco-de-minhoca. Ele termina no reino dos espíritos e os conta que não está, de fato, morto. Eles o enviam à cultura russa, e o usam em uma divinação. Decidem ajudá-lo. Eles colocam sua alma dentro do corpo de Rasputin. Rasputin vai usurpar o Czar e é assassinado. As duas almas saem do corpo de Rasputin através da rachadura no céu e Rasputin é o sábio que está tentando guiar a criança de volta ao lar, corpo, pois seus pais o descobriram e pensam que ele está morto. Rasputin precisa voltar ao seu corpo antes que seja tarde demais. Mas eles acabam encontrando o Diabo no caminho e ele tenta roubar suas almas e levá-los para baixo...há alguns obstáculos no caminho.

Dailor ainda diz que “Crack the Skye” faz referência e paga tributo à sua irmã, Skye Dailor, que cometeu suicídio aos 14 anos.

Musicalmente é o disco mais experimental e psicodélico do grupo, suas 7 faixas viajam e experimentam diversas texturas e ambiências. Temos aqui um disco menos violento e mais melancólico.

“falling from grace

cause i've been away too long

leaving you behind with my lonesome song

now i'm lost in oblivion”.

O Refrão de Oblivion, faixa que abre o album, é exemplo dessa melancolia. Os belíssimos vocais de Brent Hinds passam muito esse sentimento e para isso tem como aliados o belo solo perto do fim da canção e o belíssimo trabalho de harmonia na musica.

Crack The Skye é um disco mais leve, porém não mais acessível, é um disco tão complexo quanto seus antecessores e exige muita atenção do ouvinte. Acontece de tudo nesse registro. A faixa de numero 4 é uma espécie de opera de 11 minutos, dividida em 4 atos.

Mastodon - Divinations
Este é o vídeo mais recente da banda, do álbum "Crack the Skye"


Esse sujeito de preto no meio é Brent Hinds, um bocado encrenqueiro. Em seu currículo costam confusões com o Dream Theater, por causa de uma entrevista, E com o Baixista do System of a Down, Shavo Odadjan, tendo feito-o parar no hospital<.

Então é isso, galera. Essa foi minha estréia aqui no Tecnorganismo. No meu próximo post falarei sobre Design (o outro assunto que me cabe aqui), mais precisamente do artista Paul Romano, o gênio por trás das capas e de toda arte gráfica do Mastodon.

Cidão Oliveira

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